
Edição Especial de Colecionador
A série Litorâneas se apropriou de uma linguagem há muito esquecida pelas necessidades diárias na produção fotográfica. Utilizando a longa exposição tão necessária nos meados do século XIX, comecei buscando uma nova forma de redescobrir nosso litoral, criando assim uma nova leitura imagética sobre as paisagens litorâneas.
O lento processo de fotografar usando a longa exposição que exige a câmera sobre o tripé, os longos minutos registrando a imagem, me trouxeram uma nova forma de perceber e contemplar a paisagem. Num ritmo desacelerado, capturando a passagem do tempo, as fotografias da série me fazem contemplar a paz, o mistério e a solidão.
Primeira longa exposição produzida em abril de 2010.
"A fotografia foi inventada porque o homem cansou-se de ver o tempo passar sem poder fazer nada. Esta angústia de se saber mortal, de ver cada dia a morte chegar mais perto, o fim da jornada, como resolver isto?
O fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto, um dos melhores e mais complexos da atualidade, enfrenta este desafio assim: entra num cinema monta sua camera em um tripé e assim que o filme começa abre o diafragma da câmera. Quando termina o filme, duas horas depois ele fecha o diafragma e a luz deixa de ser registrada no filme. Com isso procura capturar o tempo.
O trabalho de Alessandro continua esta pesquisa de uma forma absolutamente pessoal. Olhamos seu trabalho e não há dúvidas, este é o Alessandro Gruetzmacher, capturando o tempo, capturando a paisagem, o céu, as montanhas, o mar, de uma forma poética, linda e misteriosa.
Compondo o caos em um quadrado Alessandro nos traz um semblante de harmonia. O mundo redondo enquadrado levanta questões para nossa reflexão. Esta é a função da fotografia quando utilizada da melhor forma possível. E em preto e branco o mistério aumenta, o essencial fica claro – e escuro.
Vivemos num mundo ambíguo de luz e sombras, noite e dia, amor e ódio, ignorância e sabedoria. Nada melhor que o preto e branco para gravar o que não pode ser registrado.
Mas o belíssimo trabalho de Alessandro vai além, fala da solidão, fala do infinito, fala da importância de se olhar o mar. Em seu manifesto sobre arte, a fotógrafa e performer Marina Abramovic diz que o artista deve passar horas vendo o mar, deve passar horas vendo as estrelas – e que o artista deve criar um espaço para que o silêncio adentre sua obra.
A obra deste nosso artista catarinense aprofunda o mistério, mostra o som do silêncio, passa horas vendo o mar e alegra a alma."
Texto de Claudio Edinger sobre a série Litorâneas
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