Com a intenção de documentar, descobrir e “redescobrir” nosso litoral, a série Litorâneas se apropria de uma linguagem há muito esquecida pelas necessidades diárias da produção de imagens. Utilizando a longa exposição, tão necessária em meados do século XIX, busca-se uma nova leitura imagética sobre as paisagens litorâneas.

Criando imagens que ressignificam aquilo que nossos olhos são incapazes de enxergar sem o auxílio do equipamento fotográfico é, ao mesmo tempo, um exercício de percepção e de preservação da memória visual.

Esta resignificação do nosso litoral, traz a documentação e o registro fotográfico de um determinando momento da história, atestando que algo, alguém ou a paisagem existiu, tornando assim a fotografia uma interpretação temporal da realidade.

A fotografia de
Alessandro Gruetzmacher

por Claudio Edinger

A fotografia foi inventada porque o homem cansou-se de ver o tempo passar sem poder fazer nada. Esta angústia de se saber mortal, de ver cada dia a morte chegar mais perto, o fim da jornada, como resolver isto?

O fotógrafo japonês Hiroshi Sugimoto, um dos melhores e mais complexos da atualidade, enfrenta este desafio assim: entra num cinema monta sua camera em um tripé e assim que o filme começa abre o diafragma da câmera. Quando termina o filme, duas horas depois ele fecha o diafragma e a luz deixa de ser registrada no filme. Com isso procura capturar o tempo.

O trabalho de Alessandro continua esta pesquisa de uma forma absolutamente pessoal. Olhamos seu trabalho e não há dúvidas, este é o Alessandro Gruetzmacher, capturando o tempo, capturando a paisagem, o céu, as montanhas, o mar, de uma forma poética, linda e misteriosa.

Compondo o caos em um quadrado Alessandro nos traz um semblante de harmonia. O mundo redondo enquadrado levanta questões para nossa reflexão. Esta é a função da fotografia quando utilizada da melhor forma possível. E em preto e branco o mistério aumenta, o essencial fica claro – e escuro.

Vivemos num mundo ambíguo de luz e sombras, noite e dia, amor e ódio, ignorância e sabedoria. Nada melhor que o preto e branco para gravar o que não pode ser registrado.

Mas o belíssimo trabalho de Alessandro vai além, fala da solidão, fala do infinito, fala da importância de se olhar o mar. Em seu manifesto sobre arte, a fotógrafa e performer Marina Abramovic diz que o artista deve passar horas vendo o mar, deve passar horas vendo as estrelas – e que o artista deve criar um espaço para que o silêncio adentre sua obra.

A obra deste nosso artista catarinense aprofunda o mistério, mostra o som do silêncio, passa horas vendo o mar e alegra a alma.